Zeca Pagodinho na Gafieira
Vocês querem curtir um CD / DVD primoroso? Vão nessa dica porque na gafieira, o baile não segue calmamente. O motivo do alvoroço não é um pé subindo e alguém indo de cara no chão. Muito pelo contrário. O salão está cheio de alegria, de júbilo, de felicidade. O clima é de comemoração. Pintou no pedaço, de terno branco e piso novo, o grande Zeca Pagodinho. Veio revitalizar, com seu inesgotável poder de criação, um gênero subestimado. Os trompetes dos mestres Gesiel, Jessé, Flávio e Nelsinho tiram a surdina, mas não para abafar encrenca. Os sopros da banda soam como clarins dando boas-vindas a um raríssimo artista brasileiro, irredutível em seus princípios e convicções. Somem a esses sopros divinos os fôlegos finíssimos de Dirceu Leite, Zé Canuto, David Ganc, Zé Bigorna, Vitor Motta, Henrique Band, Zeca do Trombone , Aldivas Lima, J.L. Areas, Bocão, Leandro e Carlos Vegas.
Sem favor algum, Zeca Pagodinho é uma espécie de herói nacional, verdadeiro, sujeito-hômi, amado pelo povão porque veio de seu seio, amigo dos amigos, e porque não se deixou contaminar, graças a sua incorruptível modéstia, pelo Complexo de Pavão que afeta muitos daqueles que ascendem ao estrelato.
Só num detalhe a situação é parecida com aquela outra, descrita no samba clássico: o moço que chegou é faixa-preta em ginga, malemolência, jogo de cintura, e, acima de tudo, honestidade.
Sob a batuta do Maestro Paulão, assessorado por arranjos e regências Leonardo Bruno, Ivan Paulo, Lincoln Olivetti, Julinho Teixeira, Victor Santos, J. Moraes, Humberto Araújo, Cristovão Bastos e com a supervisão atenta do catedrático Rildo Hora, a orquestra ajuda Zeca Pagodinho a consagrar definitivamente grandes compositores brasileiros, fechando a matraca dos pessimistas de plantão que insistem em ver nossa música em baixa. Como pode estar em baixa a música se ouvimos, enlevados, com a participação Especial da Velha Guarda da Portela, “Lenço”? A Universal Music está de parabéns.
Clássicos feito “Beija-me”, “Pisei num despacho”, “Tive Sim”, dos nossos pais Roberto Martins, Mário Rossi, Elpídio Vianna, Geraldo Pereira e Cartola unem-se ao que o samba tem de mais belo e criativo no momento. Aí, sangue bom é injetado nas veias dos pés-de-valsa, o sangue dos puros-sangues Serginho Meriti, Roberto Lopes, Alamir, Claudinho Guimarães, Dudu Nobre, Wilson Moreira, o incrível Barbeirinho, Marcos Diniz, Luis Grande, meu cumpadi Luiz Carlos da Vila, Moacyr Luz, Canário, Nilo Penetra, Zé Roberto, Jorge Aragão, Arlindo Cruz, Acyr Marques, o já imortal Monarco, Francisco Santana. Parece a Seleção Brasileira de 70. Se o Parreira tivesse convocado os caras acima, a tal da sexta estrela estava no papo.
O samba é servido quentíssimo. Pudera. Na cozinha, quem está mandando ver no tempero das iguarias são os chefs Gordinho, Maia, Ura, Jaguará, Felipe D’Angola, Braga, o mago Esguleba, Macalé – tudo marinado pela base, e bota base nisso!, do piano de Alfredo Galhões, do 7 cordas de Rogério Caetano, Mestre Paulão no de 6, o bandolim de Marcílio Lopes, o baixo de Luis Louchard, cavacos de Paulinho “Galeto” e Mauro Diniz, a bateria de Jorge Gomes. Com esse plantel, até aqueles que Dorival Caymmi chamou de “ruins da cabeça e doentes do pé” querem rebolar.
No DVD, um brinde padrão-ouro: a participação histórica e bem-humorada do campeão Miltinho (Foi assim...).
Olha o Zeca Pagodinho aí, gente!
Como no samba já citado, quem está fora quer entrar, nem que seja subindo pelas paredes, quem está dentro não quer sair de jeito nenhum.
Que o Deus brasileiro, que é moreno e gosta de pagode, proteja o Zeca e resguarde o tesouro que ele representa pra nós.
E vamos tirar as damas pra dançar, sem pisar no pé nem na bola, porque o baile não pode parar. Estamos reunidos e unidos nessa Gafieira do Zeca, onde o samba de hoje é o samba de todos os tempos, o samba eterno.
Nova Era é nome de farmácia.
Aldir Blanc