domingo, 13 de janeiro de 2008

VASCALHORDA


Não vou comentar a espetacular vitória do Vasco da Gama sobre os Retirantes Árabes, ou coisa assim, pelo maravilhoso 1 x 0, jogando todo o segundo tempo com 1 a mais. O que dizer de um time que substitui Calisto por Marcos Vinícius, Amaral por Xavier, Leandro Bonfim por Rafael, Villanueva por Beto (esse foi re-contratado pelo Vasco só por ser amigo do padreco Rolário. Tem vasta folha corrida em porres na noite carioca). E ainda temos Wagner Diniz, Vilson, Jorge Luiz, Jonílson (apresentado como se fosse um astro), e o místico Alan Kardec – só faz gol por milagre. Sobram Morais, que, dizem, será vendido para a compra de Edmal o Animundo, aquele que abandona os companheiros no vestiário do Palmeiras e a promessa – promessa é dívida... – Alex Teixeira. Ver o Vasco de hoje atuar dá uma satisfação mórbida: porque constatamos o prosseguimento do trabalho de dissolução do clube pela dupla Jeurico, o Piranda e Rolário Padreco. Comentarei o jogo contra o Bob’s Burger – travado em Dubai à Merda. O virtuoso artilheiro do passado (bota passado nisso) escalou quatro zagueiros, três volantes-de-demolição à frente dos quatro pilares, dois coitados e o místico Alan Kardec, sozinho, dando de canela na pobre da bola. Kardec bem que podia jogar de cabeça para baixo, visto que ele só funciona à testa-de-ferro. Em meio ao circo, a telinha mostrou Rolário gritando instruções para a dianteira inexistente, e um cavalheiro de cabelos grisalhos, tal de Sampaio feito o subúrbio homônimo, que dizem ser o verdadeiro técnico, roxo de berrar impropérios à defesa (???) onde desluziam algumas das estrelas citadas acima, com destaque para o sempre cocô-parrudo Amaral. O tal cara que o Conca, acho que de sacanagem, recomendou, não viu a cor da bola. De vez em quando, para fingir que formavam uma Comichão Tétrica de verdade, Rolário, o suburbano de cães embranquecida, um cara parecido com o Christopher Lee, famoso por seus papéis de vampiro, e outros OVNIs olhavam papéis, pranchetas, esquemas, laptops. Num dado momento, Rolário aparece em close e conta nos dedos um, dois, três, não sei se planejando alguma tática ou mostrando que só sabe contar até aí. Os Bob’s Burguenses, vendo a moleza que era, perderam o interesse pelo jogo, colocaram reservas que não são nem banco na Alemanha, e aí o ketchup com maionese desandou de vez. Não se trata de jogar mal. Trata-se de não jogar picas, lhufas, chongas. Mas o que vimos foi além disso: o caos do stratego e brilhante negociador Jeurico, o Clausewitz à Gomes Sá, o Maquiavel à Zé do Pipo, uma esculhambação total gerada pela empáfia quando se une à estupidez. Enquanto isso, sede hipotecada, eleições adiadas sine die por recursos calhordas, todo o tipo de patifaria. Essa zona é permitida, sancionada por um batalhão de conselheiros eunucos.

Dubai à merda, quadrilha. Aquilo lá não é o Vasco da Gama, mas o resto malhado do tráfico do Complexo da Colina. Adeus, Vasco da minha infância, que botou três titulares na gloriosa seleção brasileira campeã do Mundo em 1958. Adeus, cinzas do passado.

O Bacalhau continuará carregando sua Cruz de Malta cravada na cloaca em que o transformaram – mas eu, como torcedor, tô fora até essa merda de presidência e diretoria caírem. Remember o destino de Mussolini e sua trupe de bufões...

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

MEU DISCO DO ANO: Claudette Soares: “Foi A Noite – canções de Tom Jobim”

QUE A CANÇÃO SEJA ELA

A primeira vez em que ouvi Claudette Soares cantar ao vivo, para meu deslumbramento, foi num show no Instituto de Educação, no Rio, onde eu era um cara magrelo e com a barba cheia de falhas. Eu tocava bateria num trio, desses que servem pra esquentar a platéia (ou pelo menos essa era a intenção daqueles jovens músicos...). Claudette, como sempre inovadora, vestia um pretinho básico e botas. Cantou “A Volta (Mila)”, de Menescal e Bôscoli, e eu, no meu cantinho dos bastidores, chorei. Hoje tenho 60 anos – ou seja, enquanto eu envelhecia, Claudette entrava na idade imutável das Musas. Em todo esse intervalo de tempo, ouvi Claudette e jamais consegui que a interpretação de “A Volta” não me fizesse chorar.

Claudette é dessas cantoras raras, que unem à indispensável técnica intensa emoção interpretativa. Surgiram muitas cantoras jovens, algumas excelentes, mas à possível exceção de Leila Pinheiro, não sentimos nelas aquele frêmito que Claudette nos causa: “Nunca mais vou ouvir nada assim, Claudette é única”.

No presente (e bota presente nisso) CD, Claudette transforma-se no sabiá de Tom Jobim, ou seja, com sua infinita simplicidade, uma estrela de brilho incomparável interpreta nosso maior compositor, e a emoção que me estrangula não foi a noite que provocou, não foi o mar, não foi qualquer tipo de paisagem, inútil ou não.

A voz dela soa em seu novo CD e, dessa vez, sou eu que volto àqueles bastidores onde vi, no passado/presente, Claudette: “Quero ouvir a sua voz...”.

“A Volta” é um título paradoxal – porque eu estou indo aos pouquinhos, mas Claudette firma-se onde sempre esteve, e faz isso para que todos nós, integrantes fanáticos de seu fã-clube, continuemos querendo que a canção seja ela.

Aldir Blanc, abril 2007